Antes de mais, uma nota aos meus queridos seguidores e leitores deste meu blog: peço desculpa por reunir, no mesmo post, duas obras tão interessantes quanto díspares. Porém, esta escolha deve-se a questões da minha vida privada que, nas últimas semanas, me tem deixado menos tempo para me dedicar ao blog. Ainda assim, não quis deixar de registar duas estreias que merecem destaque: “Monólogos da Vagina – A Despedida”, pela Yellow Star Company, e “Company – Uma comédia musical”, pela Artfeist. Obrigado a ambas as produtoras pela oportunidade de estar presente nas respetivas noites inaugurais.

 

Duas estreias, duas noites que ficam na memória. Há espetáculos que nos lembram porque vamos ao teatro: para nos reconhecermos, para rirmos, pensarmos, e, sobretudo, para sentirmos. Tive o privilégio de estar nas estreias destes dois títulos muito diferentes e, ainda assim, profundamente complementares: “Monólogos da Vagina — A Despedida” e “Company – Uma comédia musical”. Saí de ambos com o coração cheio e a cabeça a fervilhar.



“Monólogos da Vagina — A Despedida”: aplauso de pé a uma geração de histórias

 

No Auditório do Taguspark, em Oeiras, a Yellow Star Company assina a derradeira temporada de um fenómeno que ensinou Portugal a ouvir o universo feminino com honestidade e humor. A versão de despedida volta a convocar os textos de Eve Ensler, agora filtrados por sensibilidades de hoje, com encenação de Paulo Sousa Costa, e mantém aquilo que sempre fez desta peça um abraço coletivo: a alternância entre o riso desarmante e a emoção crua. Estar na estreia foi, para mim, como assistir a um brinde final entre palco e plateia. Fala-se de corpo, de prazer, de medo e de pertença, e sente-se uma liberdade bonita a atravessar a sala.

 


Nesta temporada de despedida, o elenco tem sofrido uma rotação que refresca a energia do espetáculo. No Taguspark, a ficha artística atual anuncia Marta Melro, Maria Sampaio e Olívia Ortiz, em momentos anteriores, a produção contou também com interpretações de Joana Amaral Dias e Sofia Baessa, entre outras. Esta alternância sublinha a vitalidade do formato e mantém a peça viva, sem trair o espírito original. Do lado de cá da plateia, fica a gratidão: obrigado, Yellow Star Company, por me terem recebido numa despedida que é, também, uma celebração.

 

 

“Company – Uma comédia musical”: Henrique encontra Sondheim (e enche a casa)

 

No Casino Estoril, Henrique Feist conduz a chegada de “Company” a Portugal com a elegância e a inteligência musical que o título pede. Stephen Sondheim é sinónimo de sofisticação emocional: melodias que pensam e palavras que cantam. Nesta produção, com libreto de George Furth, seguimos Bobby, o solteiro rodeado de casais, num retrato moderno das nossas (des)ligações. O elenco, da fantástica Wanda Stuart a Pedro Pernas, Ana Capote, Valter Mira e tantos outros, brilha num ritmo que alterna melancolia com gargalhadas, sempre com desenho musical rigoroso e cenas que respiram Nova Iorque de 1970, sem perder o pulso e o ritmo de 2025. A estreia esgotou, e percebe-se porquê: a Artfeist entrega um espetáculo afiado, vivo, que fala diretamente a quem já se perguntou sobre compromisso, medo e o passar do tempo.



Além disso, Henrique Feist seguiu um caminho semelhante ao de Antonio Banderas na produção espanhola: conseguiu autorização oficial para adaptar a idade do protagonista. Em vez de um Bobby nos trinta e poucos, a história centra-se agora nos seus 50 anos, a idade real do intérprete, o que proporciona novas camadas de leitura às (des)ligações, ao medo do compromisso e ao balanço de vida. Essa atualização já tinha sido feita por Banderas (também com aval do detentor dos direitos) e aqui resulta particularmente orgânica, porque alinha a personagem com a maturidade emocional e o timbre da encenação. Obrigado, Artfeist, por me receberem numa primeira noite tão especial e por provarem como Sondheim continua urgente e próximo de nós.



Dois olhares, a mesma urgência

Se "Monólogos da Vagina" nos convoca para escutar, com respeito, as vozes que tantas vezes a sociedade tentou calar, "Company" pede-nos que façamos as perguntas difíceis sobre quem somos quando amamos (ou quando evitamos amar). Um lembra-nos a potência da palavra dita em corpo; o outro, a vertigem de harmonias que expõem a nossa hesitação. Saí de um e de outro com a mesma sensação: o teatro continua a ser o melhor espelho que temos: às vezes devolve-nos sobressaltos, outras vezes confirma-nos ternuras.

 

É um privilégio testemunhar o trabalho de equipas que acreditam no poder transformador do palco. À Yellow Star Company, pela coragem e pelo cuidado em encerrar um ciclo com dignidade; à Artfeist, pela excelência com que traz Sondheim para tão perto de nós. O meu sincero obrigado. Que venham as próximas temporadas, e que continuemos a encontrar-nos, de coração aberto, nas primeiras filas.

 

Notas práticas para quem quiser ir (e têm mesmo de ir)

“Monólogos da Vagina — A Despedida” está em cena no Auditório do Taguspark, com sessões anunciadas até novembro.

“Company – Uma comédia musical” está no Auditório do Casino Estoril, com sessões às quintas, sextas e sábados às 21h00 e domingos às 16h30

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Eis um adeus tenso, não de todo perfeito, mas com coração. Doze anos e oito filmes depois, (com spin-offs incluídos) a saga que pôs meio mundo a espreitar por cima do ombro chega ao capítulo final. Fui ver "The Conjuring 4: Extrema-Unção", em modo de antestreia, com uma expectativa clara: queria um desfecho à altura de Ed e Lorraine Warren. Não é um filme perfeito, sente-se a falta do pulso de James Wan na construção da tensão, mas há aqui um fecho digno, emotivo e assumidamente esperançoso e isso, para mim, faz toda a diferença.

 

 

O que continua a funcionar

Se houver uma razão para esta franquia ter marcado o terror moderno, é a forma como coloca o amor no centro do medo. Patrick Wilson e Vera Farmiga mantêm intacta a química que carregou a série desde o primeiro minuto. A relação entre Ed e Lorraine não é ornamento; é o motor emocional que sustenta cada decisão, cada risco, cada oração sussurrada no escuro. Neste “Extrema-Unção”, esse foco é ainda mais evidente: a família é o escudo, a fé é o método, e o terror é o teste.

 

Michael Chaves, que já tinha assinado a entrada anterior, não atinge o virtuosismo de Wan na gestão do suspense (aquela lenta torção de parafuso que nos tira o ar), mas entrega momentos visualmente criativos. Há uma sequência de espelhos com Judy que se destaca pela encenação e pelo uso do espaço. No geral, a casa assombrada volta a ser mapeada como um labirinto emocional e físico, e os derradeiros 30 minutos ganham densidade e desespero suficientes para nos segurar ao banco.

 

 

Onde o filme hesita

Nem tudo resulta. A promessa recorrente de que “desta vez, Ed pode não aguentar” perde força pela repetição. A balança desequilibra-se por vezes para o drama doméstico em detrimento do caso em si, e há sustos que dissipam a tensão depressa demais. Senti falta daquela respiração suspensa que os dois primeiros filmes teciam com crueldade precisa. Ainda assim, quando “Extrema-Unção” acerta, acerta mesmo e nessa altura lembramo-nos do porquê de termos ficado por aqui até ao fim.

 

 

O caso final (aviso de spoilers leves)

No coração da narrativa está um espelho antigo que catalisa uma nova manifestação demoníaca no lar dos Smurl. O argumento liga esse objeto à história dos próprios Warren: Lorraine tivera contacto prévio com o artefacto, num episódio que deixou marcas na família e uma espécie de herança espiritual na filha, Judy. O que devia ser tempo de celebração, com o casamento à vista, transforma-se num cerco psicológico quando a entidade a escolhe como alvo. É aqui que o filme faz a sua melhor síntese do ADN da saga: o mal ataca pelos elos mais frágeis, e só a união tem hipótese de o quebrar.

 

As primeiras tentativas de Ed para “limpar” a casa são falhadas, e percebe-se que não há rito possível sem enfrentamento íntimo. O ponto de viragem surge quando Judy, Ed e Lorraine deixam de combater isoladamente e encaram, juntos, o espelho e o que ele reflete: medos antigos, culpas herdadas e a tentação de ceder.

 


Na vida real

Tal como os capítulos anteriores, “Extrema-Unção” também reclama raízes no real: o argumento bebe dos registos de caso de Ed e Lorraine Warren, com ecos dos relatos da família Smurl e do tal espelho associado a fenómenos, ainda que trabalhados com alguma liberdade dramática. Importa lembrar que estes dossiers sempre foram alvo de cepticismo, mas o filme sublinha precisamente a atitude do casal fora do ecrã: contra críticas de pares, imprensa e até algumas autoridades religiosas, os Warren nunca deixaram de acreditar na existência do mal sobrenatural e de o combater. Essa convicção levou-os a entrar em casas desconhecidas, recolher testemunhos, documentar ocorrências e, quando necessário, enfrentar aquilo que consideravam ser entidades reais com os ritos que conheciam. Concorde-se ou não com a sua visão, fica o legado: uma vida a transformar medo em propósito.


 

Clímax e significado

O clímax não vive tanto do choque, mas da resolução emocional. Quando aquele espelho se parte, a imagem é clara: não é só um objeto a ceder, é um ciclo de dor a ser interrompido. É a família Smurl a recuperar a sua casa e, por extensão, os Warren a recuperarem o seu centro.

 

Depois da tempestade, o filme abraça um tom mais leve e deixa espaço para a esperança. Judy segue com o casamento a Tony Spera e Ed entrega-lhe as chaves da famosa sala de artefactos. Mais do que fan service, é uma passagem simbólica de missão que sugere continuidade possível para este universo, mesmo que os Warren se despeçam do palco principal. Há ainda uma visão que Lorraine partilha com Ed, com os dois a envelhecer juntos, rodeados de filhos e netos, que funciona como bênção final e comentário sobre o que a franquia sempre quis dizer: o amor resiste.

 

 

O meu veredito

“The Conjuring 4: Extrema-Unção” não tenta reinventar a roda. Assume-se como encerramento: reverente ao legado, mais humano do que explosivo, e preocupado em responder aos afectos que a saga cultivou. Senti falta de uma tensão mais aguçada e de um “set piece” memorável ao nível do primeiro e segundo filmes, mas saí com a sensação de missão cumprida. A despedida podia ter sido maior? Talvez. Foi respeitosa e fiel àquilo que nos fez ficar? Para mim, sim!

 

Se, como eu, acompanhaste os Warren ao longo destes anos, vais encontrar aqui um adeus caloroso, com tropeções pelo caminho, é verdade, mas sincero naquilo que afirma: por mais barulho que o mal faça, a última palavra continua a ser dita pela coragem, pela fé e pelos laços que escolhemos fortalecer. E esse eco, felizmente, ainda se ouve quando as luzes da sala se acendem.

 

Com a minha amiga Kikas Valle-Flôr na antestreia

 

 

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Como leitor que cresceu com Astérix, Obélix e o fiel Ideiafix, ver os nossos irredutíveis gauleses atravessarem finalmente o extremo sudoeste do Império romano em direção à nossa Lusitânia, é daquelas notícias que me enchem o peito. Portugal entra no mapa oficial das aventuras desta dupla, e logo com todos os sinais de identidade: a calçada portuguesa, o bacalhau e, acima de tudo, a generosidade do nosso povo.

 

Fabcaro

Um álbum soalheiro… e muito nosso

 

O argumentista Fabcaro (Fabrice Caro) quis um destino onde os heróis nunca tinham estado, tarefa cada vez mais difícil, dado o número de viagens já feitas, e desejava um álbum luminoso, de férias, com espírito mediterrânico. A escolha caiu naturalmente em Lusitânia (hoje, Portugal). Ele próprio o diz: veio várias vezes de férias e adora o país; a simpatia das pessoas conquistou-o.

 

Por se tratar de um lugar real (e tão próximo), os autores não quiseram perder a oportunidade de trabalhar sobre o terreno. Durante a preparação do livro, o editor e Fabcaro vieram a Portugal: ver sítios, sentir o ambiente, provar especialidades, tirar notas e fotografias. Essa curiosidade é meio caminho andado para um álbum que respeita e celebra a cultura que visita.



A capa provisória (uma homenagem aos nossos calceteiros)

 

O desenhador Didier Conrad recebeu um verdadeiro dossier fotográfico, cortesia de Fabcaro, e completou-o com pesquisa online. Fascinado pelos nossos padrões, decidiu que a calçada portuguesa teria lugar de destaque na capa provisória: uma homenagem ao trabalho paciente e artístico de quem talha e assenta cada cubo de pedra preto e branco. E, como motivo central, um peixe emblemático: o nosso querido bacalhau. Confesso que sorri só de imaginar os mosaicos a ondular sob as sandálias romanas e os passos apressados de Obélix.

 

Didier Conrad

 

O argumento (sem estragar a surpresa)

 

Aqui, a regra do segredo absoluto mantém-se. O que se pode revelar é pouco e saboroso: um velho escravo lusitano, que encontramos em “A Residência dos Deuses”, vai pedir ajuda a Astérix e companhia. Quanto ao resto, fico, como os bons leitores, a aguardar, divertido pelo momento em que os gauleses irão derrapar (literalmente) na calçada.

 

Anunciar com humor

 

Desde os anos 60, os criadores de Astérix têm um talento especial para anunciar novas aventuras com humor e mistério. Goscinny e Uderzo brincavam com “televisões” imaginárias, entrevistas fingidas e conferências deliciosas. Agora, Fabcaro e Conrad pegam nessa herança e atualizam-na: um vídeo online, entrevista fora de campo, um herói que resiste, outro prestes a contar mais do que devia… O suficiente para aguçar a curiosidade sem revelar o miolo. É uma arte e Astérix é mestre.

 


 

Lusitânia: de Viriato a Júlio César

 

Eis um enquadramento necessário. Como recorda Manuel Neves, doutor em Antropologia Social e Histórica, as primeiras referências aos lusitanos colocam-nos na zona montanhosa da Estrela e arredores, comunidades pré-celtas com castros fortificados. Nas altitudes, o gado e a recoleção; nas planícies, uma agricultura mais rica.

 

Com a conquista romana nasce a província da Lusitânia, crucial para o Império pelos recursos minerais, sobretudo o ouro. A produção de estanho na faixa costeira abriu rotas marítimas com o Mediterrâneo. Em menos de um século, a romanização tornou o território indispensável para Roma.

 

E os paralelos com a Gália existem: o inimigo comum (Roma), e chefes carismáticos que entram nos livros: Viriato entre os lusitanos, Vercingetórix entre os gauleses. Não por acaso, Júlio César combateu os lusitanos por volta de 60 a.C. e, dez anos depois, pôs fim à resistência gaulesa. História que promete ecoar na banda desenhada.

 


 

O que podemos encontrar nas páginas

 

Como bom português que sou, imagino, e desejo, ver monumentos reconhecíveis, sabores que nos definem, a energia aberta e hospitaleira das pessoas. Quero apanhar trocadilhos deliciosos com a nossa gastronomia, ruas de calçada cheias de gags físicos, e aquele olhar bem-humorado, mas informado, sobre quem somos. Acima de tudo, espero uma aventura cheia de sola, que nos faça rir e, discretamente, nos espelhe. Porque é este o génio de Astérix: viajar, satirizar e, no fim, brindar connosco.

 

Marquem na vossa agenda: 23 de outubro de 2025 chega às livrarias o novo álbum de Astérix passado na Lusitânia, o 41º livro da coleção. Fico, como vocês, irredutivelmente ansioso...

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Gosto quando o cinema nos convida a parar, a abrir espaço para escutar, lembrar e imaginar. “O Lugar dos Sonhos”, realizado (e escrito) por Diogo Morgado, faz exatamente isso: pega num videoclube a cair de velho, num avô e num neto que mal se conhecem, e transforma um verão numa ponte entre gerações. Estreou hoje, 28 de agosto, nas salas portuguesas.

 

A história acompanha o João, um miúdo de 10 anos muito vidrado em videojogos e redes sociais, que é “desligado” pela mãe, Sofia (Áurea, em estreia no cinema) e levado até à vila onde vive o avô Júlio (Carlos Areia), ex-projecionista de filmes que resiste a vender o seu videoclube, precisamente chamado O Lugar dos Sonhos. O encontro começa algo forçado, mas rapidamente vira rito de passagem: entre fitas, memórias e conversas, o cinema torna-se linguagem comum para dizer o que, às vezes, as famílias não sabem dizer.

 


O filme mistura referências que reconhecemos, de “Serenata à Chuva” e “Matrix” a “Regresso ao Futuro”, “Parque Jurássico”, “O Feiticeiro de Oz” ou “Guerra das Estrelas”, e convoca diferentes “dialetos” da sétima arte: do mudo à animação, passando pelos efeitos contemporâneos. Sem dúvida, é uma verdadeira carta de amor assumida ao gesto de ver filmes em conjunto e de os usar como mapa para crescer. Sendo pai, Morgado diz querer aproximar os mundos dos miúdos do “scroll infinito” e dos avós que guardam histórias no corpo e na lembrança. A intenção sente-se, fazendo-nos rir ou ficar profundamente emocionados.

 


Não é difícil perceber que “O Lugar dos Sonhos” nasce da influência que “Cinema Paraíso”, de Giuseppe Tornatore, deixou na formação de Diogo Morgado. Mais do que uma piscadela de olho a este “clássico”, é um agradecimento explícito a um filme que o marcou ainda em criança e que lhe ensinou a fazer perguntas, ao cinema e à vida.

 

Antes de “O Lugar dos Sonhos”, Diogo Morgado já tinha passado pela realização no cinema: estreou-se nas longas metragens com a comédia “Malapata” (2017), aventurou-se na ficção científica em “Solum” (2019), assinou o telefilme “Interface” (2020) e voltou ao grande ecrã com o thriller/drama “Irregular” (2021).

 


Filmado entre Lisboa e Cabeço de Vide (Alentejo), o filme alterna ambientes urbanos e paisagens rurais com uma fotografia cuidada, sempre ao serviço das personagens. Para além do trio central, vemos ainda Gonçalo Menino (o filho/neto João), Maria Viralhada, Carmen Santos, Guilherme Filipe, Ricardo de Sá, Pedro Lacerda, José Pompeu e Mário Oliveira. É bom ver gerações do talento português a cruzarem-se num projeto que quer, declaradamente, falar “para todos”.

 

 

“O Lugar dos Sonhos” propõe-se a ser um filme de reconciliação, acessível, que tenta reencantar o acto de ir ao cinema numa altura em que a sala escura luta para recuperar público. Entre perfeições e imperfeições, a ambição de criar pontos de contacto intergeracionais está lá e, para mim, isso vale a ida.

 

Gosto particularmente do subtexto: legado, perdão, escuta. Aquela ideia bonita de que as histórias que nos fizeram crescer, mesmo as que achamos “menores” ou esquecidas, continuam a abrir portas novas no presente. E que um videoclube semi-arruinado pode ser, afinal, um lugar de começo.

 

Se, como eu, cresceste a rebobinar cassetes VHS e hoje vives entre plataformas streaming, provavelmente vais reconhecer muito deste “choque de mundos”. Por isso, vão ver este lindo filme português com os vossos, conversem à saída, comparem memórias e referências. É assim que o cinema continua vivo: na sala, em conjunto, e na conversa que se partilha. Porque aqui, o cinema volta a juntar avôs, netos e memórias. A gentil convite do próprio Diogo, eu fui à antestreia ver a minha sessão. E vocês, quando vão sonhar?

 


 

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Que bom partilhar isto convosco, mas não pensem que serei apenas “mais um” no ramo imobiliário. Confesso que nunca me imaginei a abandonar de vez o universo editorial. É nele que respiro há mais de uma década, desde os bastidores da F Luxury até às histórias que conto na revista e website. Mas, se há algo que aprendi ao longo desse percurso, é que o luxo autêntico não cabe num só formato. Ele manifesta-se num perfume raro, num relógio artesanal e, naturalmente, em casas que contam a sua própria narrativa.

 

Há mais de uma década que vivo entre storytelling, marcas e relações de confiança. A comunicação, sobretudo no universo do luxo, foi a minha escola diária: escutar, interpretar, curar, ligar pessoas e expectativas a experiências à altura. É com esse ADN que passo a colaborar como Real Estate Consultant na Brightman Group – Luxury & Investment Real Estate, mantendo em paralelo, pontualmente, a minha colaboração editorial com a F Luxury.

 


O que me distingue

Não venho “mudar de carreira” para experimentar algo novo; venho antes transportar competências que sempre me definiram:

- Leitura fina do perfil de cada cliente;

- Curadoria e apresentação de propostas com rigor estético e estratégico;

- Discrição, ética e follow-up consistente, do primeiro contacto à entrega da chave (e além).


Porquê a Brightman Group

Escolhi a Brightman porque é uma empresa de serviço completo que privilegia experiência personalizada, marketing estratégico e tecnologia ao serviço de um atendimento sofisticado, liderada por Anne Brightman, fundadora e CEO, cuja experiência internacional fez elevar a marca no segmento premium. Foi através de uma conversa que tive com a Anne, que partilhou a sua visão, e o Humberto Ellwanger, que tomei a decisão de entrar neste novo mundo.

Outro dos motivos foi saber que, em 2022, a Brightman foi distinguida nos Luxury Lifestyle Awards como Best Luxury Independent Real Estate Agency in Portugal, reconhecimento que sublinha a consistência do seu posicionamento. No plano operacional, possui uma equipa de profissionais de primeira categoria e um portefólio estável no segmento alto, com cerca de 230+ imóveis e um preço médio em torno de €1,1M (valor dinâmico). A sua atividade concentra-se, sobretudo, entre Cascais/Estoril, Lisboa, Porto e Algarve, coerente com o perfil de cliente internacional e HNWI que a marca serve.

 

 

Gosto ainda do lado comunitário, pois a Brightman promove meetups e eventos de networking que aproximam investidores, consultores e clientes num ambiente de conversa aberta e lifestyle.


Training onboard



Na semana passada tive uma formação intensiva de onboarding na Brightman. Entre salutar convívio e muito empenho, aprendi o B-A-BÁ da atividade imobiliária premium na Brightman: enquadramento legal, captação qualificada, diagnóstico de valor, marketing, CRM e protocolos de atendimento de alto padrão e ainda IA (Inteligência Artifical). O mérito vai, em grande parte, para o nosso formador Humberto Ellwanger, cuja exigência serena e pragmatismo transformaram cada módulo em ferramentas práticas. Saio desta semana com método, confiança e, sobretudo, com uma rede de apoio fantástica: a equipa de rookies, da qual faço parte, talentosa e empenhada, onde foram partilhados role-plays e boas práticas.



O que se pode esperar de mim

Durante dez anos emergi na comunicação de luxo. E essa vivência brindou-me com:

- Uma rede sólida (local e internacional) que sabe a quem recorrer quando procura algo verdadeiramente especial;

- Sensibilidade para ler entre linhas e perceber as aspirações de um colecionador, o estilo de vida de uma família ou o investimento ideal para um “digital nomad”;

- E um gosto natural por curadoria: selecionar apenas o que faz sentido, em vez de “despejar” opções genéricas.

Estas competências não foram, nem nunca serão, “desligadas”. Pelo contrário: transferem-se agora para o imobiliário de luxo, onde visão editorial, estética e estratégia de marca podem fazer toda a diferença no momento de vender (ou angariar) uma propriedade.

 


O que me torna diferente neste palco

Não pretendo entrar no mercado como “mais um consultor”. Entro como um parceiro que traduz estilo de vida em metros quadrados:

-  Storytelling premium, cada casa ganha narrativa própria, comunicada com o rigor editorial a que acostumei os leitores da F Luxury;

- Marketing de luxo 360°, integrando tecnologia, social media, experiências e, claro, a minha rede de contactos;

- Atenção bespoke, com visitas discretas, curadoria de serviços (de arquitetura a art buying), follow-up constante. Porque luxo é, acima de tudo, tempo e cuidado;

- Pontes entre mundos, pois continuo a colaborar com a F Luxury, o que me mantém próximo das marcas, tendências e stakeholders que valorizam o prime real estate.



E para quem é este meu novo serviço

Para quem não quer ser um número, nem “mais um lead”. Para quem valoriza confiança, estética e eficiência; para quem procura um consultor que traduza expectativas em decisões com serenidade e precisão. É esse o meu propósito!

Por isso, se está a vender, comprar ou investir em Cascais, Lisboa e arredores, fale comigo. Terei todo o gosto em apresentar uma abordagem feita à sua medida.

 

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O conceito de metaverso já existia há algum tempo, mas ganhou novo fôlego em outubro de 2021, quando o Facebook se rebatizou como Meta. Esse foi um dos maiores marcos recentes no universo tecnológico e um sinal claro do que aí vem: um mundo cada vez mais conectado através desta realidade digital imersiva.

 

Tijolo a tijolo, ou melhor, linha de código a linha de código, o metaverso vai-se construindo diante dos nossos olhos. Plataformas como a Decentraland permitem comprar terrenos virtuais e erguer desde uma simples casa até uma verdadeira cidade digital, com toda a infraestrutura que conhecemos no mundo físico. Não por acaso, foi também nesse espaço que aconteceu a primeira Metaverse Fashion Week (MVFW), reunindo marcas de moda e acessórios, tanto históricas como digitais, que quiseram apresentar as suas novidades.

 

Shudu

 

Não surpreende, portanto, que nomes de luxo como Gucci, Prada, Balenciaga e Burberry estejam a investir no metaverso, garantindo presença e influência num território que promete redefinir o futuro. E onde há moda, há também influenciadores.

 

Do real ao virtual: quem são os influenciadores digitais?

 

Tradicionalmente, é sabido que um influenciador é alguém capaz de inspirar e influenciar comportamentos ou escolhas de consumo. No marketing digital, essa influência ganha força através das redes sociais, onde partilham dicas, estilos de vida, opiniões ou produtos, criando tendências que milhões de seguidores querem imitar.

 

Lil Miquela

 

Mas se, até agora, falávamos sobretudo de pessoas “de carne e osso”, a crescente digitalização trouxe uma novidade: os influenciadores virtuais. Confesso que, à primeira vista, a ideia de seguir alguém que não existe “na realidade” me pareceu um pouco estranha. Porém, quanto mais mergulho neste tema, mais percebo que o impacto destes “avatares” vai muito além de uma curiosidade tecnológica.

 

Segundo a plataforma Virtual Humans, já existem mais de 150 influenciadores virtuais ativos em redes sociais, muitos deles exclusivamente no Instagram. A maioria tem como público principal os jovens adultos, habituados a navegar entre o TikTok, o Snapchat e o Instagram. É nesse universo que estes rostos digitais, meticulosamente criados em 3D ou totalmente gerados por computador, conquistam legiões de seguidores.

 

Daisy

 

As marcas, por sua vez, não perdem tempo. Hugo Boss, por exemplo, incluiu as personagens virtuais Imma e Nobody Sausage nas suas campanhas da primavera/verão de 2022. Este último, uma salsicha “cartoonesca” e colorida, soma milhões de seguidores, provando que a influência no digital não depende da forma humana. Até a Kentucky Fried Chicken lançou um influenciador virtual como estratégia de marketing na China. Um homem de 50 e poucos anos, com cabelo penteado para trás, barba bem cuidada, com um lifestyle luxuoso mostrado em jatos particulares ou a levantar pesos no ginásio.

 

Colonel Sanders

 

Avatares digitais e o futuro do metaverso

 

Para já, a maioria destes influenciadores existe apenas nas redes sociais, mas o metaverso será o palco natural da sua evolução. Graças a tecnologias como captura de movimento, green screen e animação 3D, já há quem crie o seu próprio “eu virtual”, que pode até cantar, dançar ou interagir com seguidores em tempo real.

 

Ainda que tudo seja cuidadosamente guiado pelos criadores, para os fãs a experiência é real. É por isso que muitas destas figuras virtuais já promovem grandes marcas de moda, participam em eventos digitais e até defendem causas sociais. Pessoalmente, acho fascinante como um “avatar” pode gerar empatia e ligação emocional tão fortes quanto uma pessoa real. Tal é uma prova de que, no digital, as barreiras entre o real e o virtual se tornam cada vez mais ténues.

 

Rozy Oh

 

Porque seguimos quem não existe?

 

Lil Miquela

A mais famosa de todas. Criada pela startup Brud em 2016, apresenta-se como uma jovem de 19 anos e já foi considerada pela TIME uma das 25 personalidades mais influentes da internet. Colaborou com marcas como Prada, participou virtualmente no Coachella e até protagonizou uma campanha da Calvin Klein ao lado de Bella Hadid.

 


 

Shudu

Conhecida como “a primeira supermodelo digital do mundo”. Criada em 2017 pelo fotógrafo Cameron-James Wilson e lançada por Olivier Rousteing na campanha #BalmainArmy, chegou a enganar seguidores quando a Fenty Beauty partilhou uma das suas imagens pensando tratar-se de uma modelo real.

 


 

Rozy Oh

A primeira grande influenciadora virtual da Coreia do Sul, criada pela Sidus Studio X em 2020. Apresenta-se como uma jovem de 22 anos e é chamada de GamSeong JangIn (“especialista em expressões”) pelos fãs, graças à sua versatilidade.

 


 

Daisy e Maya

Daisy nasceu em Milão pelas mãos da Yoox Net-a-Porter, inspirada na atriz Hannah Gross, e já apareceu em campanhas da Calvin Klein e Tommy Hilfiger.

 

Daisy



Maya, por sua vez, foi criada pela Puma em 2020, lançando o modelo Rider e assumindo o papel de “virtual girl” do sudeste asiático.

 

Maya

 

Além delas, há também influenciadores virtuais masculinos, como Blawko, FN Meka, Knox Frost ou Liam Nikuro, todos a consolidarem espaço neste novo ecossistema.

 

Blawko

 
Liam Nikuro

 

O próximo passo

 

Tal como Mark Zuckerberg escreveu na sua carta de fundador em 2021, “o metaverso é a próxima fronteira da ligação entre pessoas, tal como as redes sociais foram há uma década”.



E se hoje seguimos influenciadores humanos e digitais nas redes tradicionais, amanhã será no metaverso que estes "avatares", reais ou virtuais, irão marcar tendências, ditar estilos e até inspirar causas. No fundo, não consigo deixar de pensar que, daqui a alguns anos, falar de um “influenciador virtual” será tão banal quanto hoje é falar de um youtuber ou de um criador de conteúdos no Instagram. Afinal, no mundo digital, a influência não conhece limites. E há um detalhe que me intriga particularmente: estes influenciadores virtuais nunca envelhecem, nunca morrem. Eles permanecem eternamente no auge, como personagens imortais de um futuro que já começou.

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